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Cidade Multiespécies
Apresentação de projetos do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba /UFPB

O curso Cidade Multiespécies ofereceu aos alunos a oportunidade de desenvolver uma compreensão mais profunda do Antropoceno por meio das lentes das infraestruturas e do ambiente construído e de apresentar suas próprias respostas críticas.

 

A principal bibliografia e ferramenta conceitual para o curso foi o Feral Atlas, uma recente publicação digital comissariada e editada por três antropólogas ambientalistas e uma arquitecta, que explora os mundos ecológicos criados quando entidades não humanas se misturam com projetos de infraestruturas humanas. Em base ao Feral Atlas e observações de campo, os alunos indagaram um entendimento multiespécies da cidade e suas infraestruturas.

 

O programa intensivo enfatizou discussões em grupo, pequenas leituras, pensamento crítico, explorações visuais e reflexões individuais, que foram orientadas e informadas pelo professor. Contou com a participação como convidado externo de Diego Bis, pesquisador associado da Universidade do Minho e do projeto Fishing Architecture. 

 

Os alunos foram encorajados a desenvolver abordagens pessoais e talvez não convencionais; entretanto, seus trabalhos permaneceram cientificamente precisos na interseção da arquitetura e a análise espacial, as humanidades ambientais e as artes.


 

Programa

 

14:00h   Apresentação do curso por Prof. Pablo DeSoto

 

14:20h   Apresentação dos projetos dos estudantes:

 

Carla Lombardo, COREOPOLÍTICAS DA TERRA: NEOEXTRATIVISMO E SUBSISTÊNCIA NOS ESTUÁRIOS DE SUAPE

 

Carlos Pastor, ESTAÇÃO SAPO: AGÊNCIAS CRÍTICAS PARA INFRAESTRUCTURAS MULTIESPÉCIES 

 

Alice Piva, BERÇÁRIO MARINHO COMO BARREIRA PROTETIVA DA COSTA URBANA DE JOÃO PESSOA

 

Gilmar Queiroz, MEANDRO: CARTOGRAFIA CRÍTICA DOS IMPACTOS DO ANTROPOCENO NO RIO PAJEÚ EM PERNAMBUCO

 

Alexandre Mendes, CABEDELO MULTIESPÉCIES: APROXIMAÇÕES E REPULSÕES AMBIENTAIS


 

15:00h Revisão dos projetos pelos críticos externos convidados Jailson Rocha e Cristina Ribas

 

16:00h Fechamento


 

 

Críticos externos convidados:

 

Jailson José Rocha

Professor do CBiotec, Centro de Biotecnologia da UFPB. Forma parte do OBDA observatório de Bioética e Direito Animal. 

 

Cristina Ribas

Pós Doutora do Pos Doc no Programa de Artes Visuais da UFRGS, coordena Desarquivo org e forma parte da rede Conceptualismos del Sur. Tem doutorado em Goldsmiths, University of London.


 

 

Trabalhos:

 

COREOPOLÍTICAS DA TERRA: NEOEXTRATIVISMO E SUBSISTÊNCIA NOS ESTUÁRIOS DE SUAPE

Carla Lombardo

 

Este trabalho apresenta uma cartografia crítica sobre o território de Suape, na região metropolitana do Recife, onde está implantado o maior Porto do Nordeste do Brasil. Nela, capas temporais superpostas misturam as camadas históricas da colonização, exemplificada pelos navios negreiros e os engenhos, com a fase atual de aceleração capitalista, exemplificada pelas infraestruturas do porto industrial e a turistificação. O mapa se baseia no conceito de coreopolítica para apresentar diferentes coreografias políticas em um território em conflito. As exo-coreopolíticas são as do capital: o fluxo de navios de grande porte -de até 330 mt de comprimento- e a introdução de espécies exógenas, as dragagens que possibilitam a circulação no canal e causam o desvio do fluxo do rio e do ciclo de reprodução dos tubarões, e a rotina da segurança privada em moto na região administrada pelo Complexo Portuário Industrial Suape. As endo-coreopolíticas, são as dos mariscos nas beiras das praias e das marisqueiras que catam e pescam para subsistir, os moradores da região que transformam esse alimento em um delicioso compost, e das doceiras da região, algumas das quais coletam os frutos -cajus, jenipapo, jaca- para preparar suas iguarias.

 

 

ESTAÇÃO SAPO: AGÊNCIAS CRÍTICAS PARA INFRAESTRUCTURAS MULTIESPÉCIES

Carlos Pastor, 

 

Uma dúzia de campos de golfe ocupa a costa de Alicante. Paradoxalmente, embora estes complexos residenciais e recreativos tenham transformado completamente os ecossistemas circundantes, a procura de recursos e energia de que necessitam tem servido para sustentar a vida de dezenas de espécies. A inauguração da estação de tratamento de água de l'Alacantí Nord em 2011, fez crescer um pomar ao longo dos anos, com os 2,5 milhões de litros de água tratada por ano que acabam no mar. Popularmente conhecido como o Rio Seco, durante séculos o seu curso era intermitente, pois cada pingo de água era utilizado para a irrigação inteligente de uma das copas da Europa. A família de turistas que vive agora  no apartamento, cuida do ecossistema vizinho. Regressarão a casa sem saberem que participaram na manutenção de uma paisagem delicada que estava à beira da extinção há alguns anos.

 

 

BERÇÁRIO MARINHO COMO BARREIRA PROTETIVA DA COSTA URBANA DE JOÃO PESSOA

Alice Piva

 

Cenário chthulucênico composto a partir da implantação de infraestruturas multiespécies para preservação dos corais do Cabo Branco-Seixas na porção da orla marítima da cidade de João Pessoa. Atualmente, esse ecossistema encontra-se em acelerado processo de degradação por causas antrópicas: obras de contenção da erosão costeira e pela pressão ecológica exercida pelo turismo predatório, pelo processo intenso de urbanização da orla nas últimas décadas e pelos efeitos da mudança do clima global. O projeto trata-se de uma narrativa solar punk regionalmente espacializada, que surge através do reconhecimento das relações de parentesco entre a autora e as comunidades habitantes dos corais. Soluções baseadas na natureza são esquematizadas a partir de dados bio-geológicos locais e sistemas de fabricação bio-digitais para adaptação do habitat e das dinâmicas de ocupação das áreas marinhas e costeiras, criando oportunidades para prototipagem de comunidades além-de-humanas.

 

 

MEANDRO PAJEÚ: CARTOGRAFIA CRÍTICA DOS IMPACTOS DO ANTROPOCENO NO RIO PAJEÚ, EM PERNAMBUCO

Guilmar Queiroz

 

Com os processos de colonização e industrialização das cidades, a relação entre os rios e o meio urbano tem se tornado conflituosa, acarretando em graves impactos ambientais e socioeconômicos. Desde o crescimento significativo de suas cidades vizinhas, todo o percurso da bacia hidrográfica do Rio Pajeú, localizado no estado de Pernambuco, tem sido progressivamente degradado por intervenções indevidas: Poluição de recursos hídricos com deposição de lixo e esgotamento doméstico e industrial, desmatamento de sua mata ciliar e extração de quantidades significativas da areia do rio. O projeto surge a partir de uma relação pessoal entre o autor e o Rio Pajeú, com o intuito de expressar graficamente, através de uma cartografia crítica, a relação antropocênica entre o rio, suas cidades margeadas e as espécies além-de-humanas. 

 

 

CABEDELO MULTIESPÉCIES: APROXIMAÇÕES E REPULSÕES AMBIENTAIS

Alexandre Albuquerque

 

Tendo em vista o período em que a sociedade se encontra, de dominação do homem sobre a natureza, no antropoceno; e as potencialidades ambientais da produção de uma cidade multiespécies, esse trabalho busca relacionar essas temáticas com acontecimentos recentes na modificação da malha urbana do município de Cabedelo, na Paraíba. A inserção de novas infraestruturas urbanas de concreto se vê em contraste com a utilização de elementos naturais que servem de aproximação de espécies diferentes, formando uma antítese entre movimentos de aproximação e repulsão de espécies, seja da flora ou fauna local. Com uma grande biodiversidade, é escolhido nesse trabalho uma espécie em específico de árvore local, o cajueiro, para exemplificar as possibilidades atrativas das espécies naturais, em contraposição às estruturas de concreto, que repelem os elementos naturais que ainda lutam para pertencer a esse novo sistema criado. Percebe-se assim a importância da produção de cidades que se comuniquem com a natureza e que sejam criadas não apenas para satisfazer as necessidades humanas, mas que seja estruturada para todas as espécies.

Créditos da imagem: Carolly Barbosa

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